No decorrer deste projeto aqui no Vale do Jequitinhonha, a pintura das casas acaba gerando outros desdobramentos. Tenho falado aqui, com certa ênfase, da participação das crianças na elaboração e confecção das pinturas, e como isso as tem motivado. É muito importante, no trato com as crianças, atribuir-lhes papéis de protagonismo e confiança, visto que muitas vezes subestimamos sua capacidade criativa ou de organização, conferindo-lhes responsabilidades muito simplórias. As crianças não são bobas, e não adianta delegar-lhes atividades aleatórias, no propósito de ocupar-lhes com meras distrações! Elas gostam de ver-se em posição de importância_ de colocar a estrela da árvore de natal! Ter uma participação significativa, em qualquer acontecimento, é uma forma de afirmar-se ao mundo, e reconhecer-se como ser humano ativo na dinâmica da sociedade. Para tanto, é preciso que nós adultos tenhamos apenas paciência, no que se refere a respeitar seus processos e atender-lhes as constantes dúvidas.
Uma vez que ando por aqui, no Pasmadinho, sempre munido de uma câmera fotográfica profissional, equipamento quase desconhecido na área, já que as câmeras foram substituídas por celulares, tal situação excitou certa curiosidade. Comecei então a apresentar-lhes a máquina, mostrando seu funcionamento, e deixando que elas fizessem algumas fotos. Isso gerou grande entusiasmo e euforia, e dia após dia, elas foram se aperfeiçoando na utilização da mesma, bem como nos temas e enquadramentos escolhidos. Crianças entre 4 e 12 anos começaram então a circular pela vila, fazendo livremente fotos de motivos que, por alguma razão, chama-lhes atenção. Da mesma forma, têm feito fotos umas das outras, ou de si mesmas, tudo com muito zelo e cuidado. Os adultos ficam perplexos com o fato de eu deixar nas mãos da meninada um equipamento visivelmente caro e sensível, mas como eu disse, não podemos subestimar-lhes! Tendo satisfeita a curiosidade inicial, cujo veto leva-lhes muitas vezes "destruir" ilicitamente as coisas, elas agem com a maior cautela, porque foi-lhes depositada confiança e autonomia. Neste contexto, orientei-lhes sair pela vila, sem minha presença, fotografando qualquer coisa que quisessem. O resultado foi surpreendente e até mesmo comovente, e aqui apresento algumas das imagens resultadas desta interessante experiência