segunda-feira, 22 de junho de 2020

Exposição virtual - PRESENÇA!

Desde muito jovem desenvolvo trabalhos artísticos cujos modelos e personagens são negros, exaltando-lhes as características e aspectos culturais tão belos. Sempre me incomodou o fato de, embora estando num país onde a maioria das pessoas sejam negras, essas não figurem na publicidade e outros veículos de comunicação. Depois, na medida em que fui compreendendo as verdadeiras razões evidenciadas nesta ausência, dei-me conta de que o problema é muito mais grave, complexo e arraigado em nossa sociedade.
Face aos recentes acontecimentos que geraram no mundo inteiro um movimento em massa, diante da comoção iniciada nos Estados Unidos ante a ação preconceituosa, truculenta e arbitrária engendrada por alguns policiais americanos, penso que, em nosso país, as  coisas também sempre foram assim! Todos os dias essa história se repete aqui, de forma explícita e degradante, e não só numa violência movida pelos mecanismos de segurança e repressão mas, o que pode ser até pior, por nossa displicente e até mesmo perversa  atitude de um preconceito normatizado. E sem que isso cause qualquer incômodo ou revolta! O projétil que, diariamente, seleciona, mira e abate uma pessoa negra, carrega todo o peso de nossa sociedade, em (des)valores cultivados desde as origens da nação. Combater isso é muito mais que empunhar cartazes, mesmo tendo tal iniciativa seu valor! É, antes, mudar drasticamente algo muito grave existente em nós mesmos. A revolução deve ser pessoal e introspectiva, destruindo conceitos que se enraizaram no nosso modo de ser, pensar e agir, para assim reconstruir um novo modelo de convivência movida por empatia, solidariedade e justiça.
Reconheço, no entanto, minha falência e incompetência em discorrer sobre tais questões! Eu não sou negro, e jamais saberei o que é sentir na pele o estigma que isso significa, nas pequenas coisas que nós outros julgamos insignificantes. E mesmo minha mais lúcida reflexão a respeito ainda será distorcida e parcial. Por isso faço um esforço para tentar ouvir o que o clamor negro quer dizer, em suas mínimas ponderações, sabendo que quase sempre tal clamor diz respeito há uma ordem de conduta que eu próprio, em minha invigilância, tenho. E assim sigo fazendo o que, em minha humilde condição, posso fazer: ocupando, eventualmente, e muitas vezes de forma impositiva, os espaços de um imagético mundo branco, conferindo-lhe a beleza do negro, no patamar tão nobre das artes.
Neste contexto, elaborei esta galeria de algumas obras que tenho feito durante a vida, e que em sua singeleza, tenta traduzir, de forma reverente, a presença do povo negro em tudo quanto somos...



 Obra- Rainha do congo- acrílico sobre tela


Obra- Ewá- acrílico sobre tela



Obra- O sono II- acrílico sobre tela

Obra- Anjinho- acrílico sobre tela


Obra- A menina- acrílico sobre tela


Obra- African lady- pintura sobre parede, Estocolmo/Suécia

Obra- A baiana- acrílico sobre tela


Obra- Zumbi dos Palmares- acrílico sobre tela


Obra- O abrigo- Pintura sobre parede, Bergen/Noruega


Ilustração em técnica mista

Retrato de minha avó paterna- lápis grafite sobre papel

Escrava Feliciana_ ícone cultural e religioso do vale do Jequitinhonha- ilustração

Obra- A menina do mundo- acrílico sobre tela

Obra- A maçã- acrílico sobre tela

Obra- O menino rei- acrílico sobre tela

Obra- Sob a árvore- acrílico sobre tela

Pintura em acrílico sobre placa de madeira

Obra- Diverso- pintura em acrílico sobre painel

Obra- A gangorra- acrílico sobre tela

Obra- O silêncio- acrílico sobre tela

Obra- A imperatriz- acrílico sobre tela

Obra- Iemanjá- acrílico sobre tela

Obra- O segredo- acrílico sobre tela

Obra- O coração do Brasil- pintura sobre parede

Obra- A rainha das águas- acrílico sobre tronco de madeira

Laudas do tempo- pintura sobre parede


 Obra- O poder da leitura- pintura sobre parede


Pintura sobre parede


Namoradeira na Noruega- pintura sobre parede, Oslo/Noruega



Pintura sobre tronco de coqueiro


Projeto Pasmadinho- pintura sobre parede/ Vale do Jequitinhonha


Projeto Pasmadinho- pintura sobre parede/Vale do Jequitinhonha



Projeto Pasmadinho- pintura sobre parede/Vale do Jequitinhonha



Projeto Pasmadinho- pintura sobre parede/ Vale do Jequitinhonha



Projeto Pasmadinho- escultura em concreto armado- Vale do Jequitinhonha


Escultura em cerâmica


Escultura em cerâmica


Escultura em cerâmica









quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O que aprendemos com Brumadinho





Após alguns meses do incidente em Brumadinho, cujas consequências são ainda imensuráveis, criei coragem para ir até lá. Na verdade, fui na área atingida buscar um pouco da lama para fazer uma pintura. Na ocasião do rompimento da barragem, cogitei qualquer forma de fazer algo efetivamente útil, mas confesso que meu estarrecimento me deixou inerte, e a dimensão do problema constrangeu minha própria capacidade de pensar em alguma assistência, o que foi uma grande ignorância: eu poderia ter levado um abraço de amparo àquelas pessoas, uma garrafa de água, ou qualquer coisa que, sendo simples em sua providência, faz, em momentos, assim toda a diferença.
Acabei por acompanhar de longe a comovente ação das pessoas que integraram a grande corrente de solidariedade e trabalho, dispondo-se, como puderam, para amainar o sofrimento das vítimas, seus familiares, bem como dos animais atingidos. O corpo de bombeiros ainda hoje está lá, numa incessante busca dos desaparecidos, afim de dar uma resolução digna junto às famílias cujo ente querido não voltou. Por isso resolvi fazer uma pintura com a terra, aquela mesma terra que devastou tantas vidas e sonhos, para tentar presentear a corporação dos bombeiros, em nome de tantos quantos tenham, de alguma forma, estendido sua mão, e a colocado a serviço. Tal pretensão não foi fácil! Tendo coletado o material no local, o que por si só já foi demasiadamente angustiante, trabalhar nesta contextualidade, e com este conceito, deixou-me extremamente triste. Eu encontrei no degradado corredor de rejeitos, e onde antes fora um córrego,  três cores de minério diferentes, que resultaram em pigmentos até bonitos, mas saber a realidade por trás disso foi realmente lamentável! A cada pincelada, ocorria-me todo o sofrimento de quem foi atingido na carne, na alma,  ou naquilo que possui de mais precioso.




A cidade de Brumadinho vai se erguendo aos poucos. As pessoas estão apenas tentando seguir com suas vidas, trazendo na face o esforço de um sorriso a tanto afogado em pranto, na busca de readquirir algo que, não sendo jamais o mesmo, possa ao menos ser suficiente. E neste contexto, talvez voltar a ter orgulho! Mesmo o rio Paraopeba corre triste, enlameado, mas com a persistência de uma vida e esperança latentes em suas águas irriquietas.  Que nunca nos esqueçamos, portanto, de como a ambição inconsequente e voraz é destruidora! Seus propósitos não contabilizam vidas, e não visam o progresso comum, senão seus próprios interesses. Mas não nos esqueçamos, acima de tudo, as lições de humanidade que Brumadinho nos legou. Em meio a tanta dor, desespero e tristeza, eclode o que temos de bom, fazendo-nos lembrar que também somos isso...


quarta-feira, 24 de julho de 2019

Pintura comunitária

Fui chamado para coordenar a pintura do muro da creche MORADA NOVA, no aglomerado da Barragem Santa lúcia, em Belo Horizonte, com a participação das crianças da instituição, funcionários e, como na oportunidade pintamos também o próprio beco onde se localiza o espaço, ali chamado 'Beco N', convidamos as pessoas da comunidade. 


Desde alguns anos, sem que me desse conta, e tendo acumulado diversas ações de pintura participativa, acabei me tornando quase um especialista nesta arte, cujo objetivo máximo é permitir às pessoas a possibilidade de manifestarem, de forma pictórica, sua subjetividade em espaços de usufruto público, incentivando-lhes um sentimento de pertença e uma consequente atitude de preservação do patrimônio.


A referida creche é um espaço super interessante e acolhedor, e hoje assiste a 200 crianças da Barragem Santa Lúcia e Morro do Papagaio. Tendo conhecido o local, que possui uma infraestrutura muito bem organizada, além de dispositivos sustentáveis quanto à utilização e aproveitamento da água que abastece o recinto, expliquei à meninada maravilhosa que me acompanharia nesta empreitada como se daria o trabalho! 

Como tenho feito em outras experiências, concebi um projeto gráfico baseado no tema que foi-me dado_ a saber A FAMÍLIA_ dispondo nesta elaboração espaço para que as crianças e os outros envolvidos pudessem pintar a vontade, segundo suas habilidades. É muito importante que se permita tal liberdade, para que o espaço resulte com as características inerentes de sua realidade e das pessoas que ali vivem. Tenho sempre dito que oferecer um pincel às pessoas, bem como espaço para  uma ação de pintura em suportes da comunidade, é dar-lhes voz. É muito lindo observar a satisfação dos participantes, sua alegria e seu orgulho! A pintura em paredes em grandes formatos pressupõe uma destreza que a maioria das pessoas julga não ter, e por isso é comum vê-las surpresas e felizes com o resultado de seu trabalho. 


Com a colaboração da equipe de funcionários da creche, sendo alguns também artistas, na organização da logística de trabalho e pintura, todas as 200 crianças assistidas deixaram sua marca no muro. Neste contexto, apareceram outras crianças moradoras do bairro, e formou-se uma grande força tarefa na pintura da parede e da escadaria do Beco N. Alguns vizinhos adultos também colaboraram com muita alegria, e assim concluímos o projeto em dois dias. Os transeuntes apreciaram e elogiaram o trabalho, bem como os familiares das crianças. 


Prezo saber que o tema da família, simbolizado na pintura, saiu da parede e nos abraçou a todos, mostrando que mais uma vez a magia da arte se faz no estado de espírito que esta nos inspira. E a pintura comunitária mostra-se um eficaz veículo de conexão entre as pessoas, troca de experiências e, sempre, um grande e agradável momento!