sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O coração do Brasil

Durante o mês de novembro, fiz em Belo Horizonte minha primeira exposição individual, na galeria e espaço cultural GALPÃO PARAÍSO. Tal mostra reuniu obras de pintura em tela que tenho produzido nos últimos sete anos, algumas das quais já mostradas e descritas aqui em meu blog. Este acontecimento marca um importante momento, em que se encerram para mim algumas histórias e se iniciam outras.

Entre outras atividades nas quais me vi envolto na galeria neste período, fiz em sua fachada uma grande pintural mural. Na verdade, de ano em ano esta pintura é renovada por diferentes artistas da cena da street art de Belo Horizonte. Aproveitei  o período da exposição para projetar e confeccionar a nova elaboração, a qual denominei O CORAÇÃO DO BRASIL. O mural traz as imagens de uma índia e de uma negra, ambas sustendo junto ao ventre um coração flutuante. Acredito que, não desconsiderando os atributos culturais europeus herdados em nossa miscigenação, o que possuímos de mais ancestral, e mesmo primordial, está configurado em tudo quanto trazemos dessas duas raças.

É uma imagem antes de tudo feminina, evocando a grandeza e divindade matriarcal, e apresenta alguns outros elementos simbólicos, tais como o próprio fundo. No quadrante onde se encontra a índia, podemos ver uma noite estrelada, remontando à noite dos tempos, quando o país pertencia a este povo. Já no quadrante onde se apresenta uma negra com características africanas, o fundo está como que em lusco-fusco, num clarão que pronuncia a alvorada. Neste contexto, espera-se que o dia, configurado no momento presente da história, esteja implícito e possa raiar em nós mesmos. Os corações, apresentados de forma mística, lembram também úteros, onde foi germinado e gerado o povo brasileiro. Tudo sob a explosão de um olho cósmico, símbolo este sempre permanente na parede do galpão, e ao qual todas as novas produções devem se adequar. Durante a confecção do trabalho, foi visível a unânime simpatia das pessoas em relação à imagem, corroborando o sentimento de que, realmente, trazemos em nós  esse radical tão intrínseco e íntimo.








Nenhum comentário:

Postar um comentário