terça-feira, 26 de dezembro de 2017

As orquídeas

A natureza nos presenteia com seus encantos! Além de nos prover com os recursos necessários à sobrevivência, cobre o planeta com sua beleza materializada em tantas formas, gostos, aromas, sensações. A floresta tropical, neste complexo, possui privilegiado repertório de espécies animais e vegetais, e nosso país, por sua localização e situação geográfica, possui por sua vez umas das mais ricas florestas do planeta. _Que como sabemos, e infelizmente, se encontram em constante e avançada situação de ameaça e degradação. 

O quintal de minha casa é uma pequena área verde, onde existem algumas plantas frutíferas e ornamentais, dentre as quais belas orquídeas, este majestoso  exemplar das referidas florestas. Todo ano, por ocasião da primavera, elas nos brindam com suas flores magníficas, causando-nos um deleite inexprimível. A disciplina natural é incrível, no tocante suas fases e estações, e nos aponta nesses pequenos e grandiosos eventos quanto a natureza, e não nós, com toda nossa prepotência, é quem controla este mundo. Na flora deste ano resolvi fazer uma pequena pintura junto às orquídeas, criando uma silhueta humana mesclada à planta, resultando uma imagem que, mais que apenas bela, num contexto de composição artística, mostra esta indissociável e vital ligação. Agredir a natureza, portanto, ao ponto de sua quase total destruição, denuncia o futuro próximo que nos aguarda...



sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O coração do Brasil

Durante o mês de novembro, fiz em Belo Horizonte minha primeira exposição individual, na galeria e espaço cultural GALPÃO PARAÍSO. Tal mostra reuniu obras de pintura em tela que tenho produzido nos últimos sete anos, algumas das quais já mostradas e descritas aqui em meu blog. Este acontecimento marca um importante momento, em que se encerram para mim algumas histórias e se iniciam outras.

Entre outras atividades nas quais me vi envolto na galeria neste período, fiz em sua fachada uma grande pintural mural. Na verdade, de ano em ano esta pintura é renovada por diferentes artistas da cena da street art de Belo Horizonte. Aproveitei  o período da exposição para projetar e confeccionar a nova elaboração, a qual denominei O CORAÇÃO DO BRASIL. O mural traz as imagens de uma índia e de uma negra, ambas sustendo junto ao ventre um coração flutuante. Acredito que, não desconsiderando os atributos culturais europeus herdados em nossa miscigenação, o que possuímos de mais ancestral, e mesmo primordial, está configurado em tudo quanto trazemos dessas duas raças.

É uma imagem antes de tudo feminina, evocando a grandeza e divindade matriarcal, e apresenta alguns outros elementos simbólicos, tais como o próprio fundo. No quadrante onde se encontra a índia, podemos ver uma noite estrelada, remontando à noite dos tempos, quando o país pertencia a este povo. Já no quadrante onde se apresenta uma negra com características africanas, o fundo está como que em lusco-fusco, num clarão que pronuncia a alvorada. Neste contexto, espera-se que o dia, configurado no momento presente da história, esteja implícito e possa raiar em nós mesmos. Os corações, apresentados de forma mística, lembram também úteros, onde foi germinado e gerado o povo brasileiro. Tudo sob a explosão de um olho cósmico, símbolo este sempre permanente na parede do galpão, e ao qual todas as novas produções devem se adequar. Durante a confecção do trabalho, foi visível a unânime simpatia das pessoas em relação à imagem, corroborando o sentimento de que, realmente, trazemos em nós  esse radical tão intrínseco e íntimo.








quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Laudas do tempo

Tenho produzido uma série de pinturas em casas abandonadas pelo mato, em rincões rurais, denominada "LAUDAS DO TEMPO". Consiste em retratos em grande formato de pessoas idosas, cujo aspecto um pouco desolado conecta-se inevitavelmente ao próprio local. Tais imagens, nesse contexto, remete-nos a finitude de tudo, mas sobretudo, que mesmo no fim, é possível ostentar uma beleza clássica e, sobretudo, digna. Esses locais, outrora habitados, guardam nas próprias ruínas suas histórias secretas, esquecidas, íntimas, e imprimir ali essas pinturas é uma forma de, conceitualmente, restaurar um pouco de sua alma perdida nos tempos ...







 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Sobre a arte e suas polêmicas

Algumas pessoas próximas tem-me questionado acerca dos atuais eventos, onde várias exposições no Brasil foram fechadas, ou estão neste processo, por apresentarem conteúdo dito "inapropriado". Tenho observado, neste contexto, um conflito de opiniões sobre o que é ou não arte, qual deve ser seu papel, e até onde esta deve ou não ir. Bem... minha opinião a respeito vale muito pouco, mas vejo-me, na condição de artista, num certo dever de, a partir deste meu ponto de vista, manifestar-me a respeito. 
Vejo que a arte, enquanto uma manifestação humana, tende a refletir esta natureza, portanto ela é ilimitada. Não é algo cuja função seja enfeitar paredes, como muitas vezes se pretende, embora possa, sim, sê-lo. Dizer que a arte deve apenas personificar o que temos de virtuoso é torná-la muito parcial. Ela traduz o belo, mas também traduz nossa angústia, nossos instintos, tudo quanto tenhamos de bom ou ruim. Pode tanto refletir nossa condição humana, como também denunciá-la nas coisas que, sendo desagradáveis, ainda assim nos diz respeito. Francisco de Goya, um dos maiores artistas de todos os tempos e mestre da arte universal, fez em seu tempo uma série de gravuras sobre a guerra. Essas imagens, senão por fatores de técnica e composição, não possuem nada de belo, e pelo contrário, são aterradoras. Mostram pessoas sendo destrinchadas, enforcadas, mutiladas. No entanto, possuem o status crítico das obras clássicas. Goya não intentou, com este trabalho, incitar as pessoas a violência,  prestigiar os conflitos, nem possuía nenhum fetiche mórbido. É um registro quase fotojornalístico, mas acima de tudo, logrou denunciar e escancarar isso que, sendo triste e lamentável, também é humano.
Muitas pessoas estão furiosas com o tratamento que foi dado por exemplo, nas referidas exposições, a alguns ícones religiosos. Sentiram-se desrespeitadas e invadidas nos valores de sua fé. Bem, essa questão daria em si, e por tão variados ângulos que não só o da arte, tanta discussão,  que não me convém aprofundá-la aqui. Basta dizer que, muito pior que fatores simbólicos, cuja significância é muito subjetiva, é tudo quanto se faz em nome de Deus e Jesus (só para citar esses exemplos cristãos),  neste mundo! No entanto, ninguém sai por aí querendo fechar igreja, por julgar que a concepção que se faz de Deus em alguns templos ofende certos valores singulares de fé. Eu consigo compreender a comoção, traduzida em ofensa, que tais trabalhos inspiram nas pessoas incultas, seja por fatores teológicos, sociais, políticos ou por tratarem de corpo e sexualidade, mas ao analisá-los pela luz de um raciocínio distanciado daquilo que diz respeito apenas a MEU PADRÃO DE VALORES, e que por melhor que seja, não deve ser, de forma alguma, a conduta de outrem, vejo que tais obras incitam reflexões que, antes de revolta e repugnância, deveriam ser consideradas com muita seriedade. As pessoas se fixam na imagem, e sequer se dão a oportunidade de tentar fazer uma leitura inteligente.
Lamento dizer que a arte, muitas vezes, enfiará seu dedo polêmico na ferida de nossa futilidade, sendo ás vezes, para tanto, igualmente fútil, e isso causará incômodo, pois ninguém quer ser lembrado do quanto somos seres desprezíveis! Mas muitas vezes ela será sublime, e espero que isso também nos mostre o quanto somos lindos.


O artista confronta a censura com o próprio sangue._obra- "O QUE TRAZEMOS NAS VEIAS", acrílico sobre tela, por Wederson

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Aventura e arte no norte europeu

   No intuito de divulgar e produzir meu trabalho artístico, bem como assimilar e vivenciar novas e inspiradoras experiências, empreendi uma longa viajem de alguns meses para a Escandinávia, como outros países do norte da Europa. Esta viajem mostrou-se, sob vários aspectos, magnífica, mas como este blog trata exclusivamente do meu fazer artístico, irei me ater a este assunto. 
    Após meses de ininterrupto trabalho no Brasil, confeccionei uma série de trabalhos que logrei levar comigo, na intenção de que os mesmos pudessem ser comercializados ou apenas expostos à apreciação pública. Expus sem constrangimento tais trabalhos em espaços públicos, como praças, prática esta, aliás, muito em voga na Europa. Como o tema das pinturas abordavam crianças em situações incríveis e fantásticas( farei posterior publicação das mesmas aqui), posso dizer que este foi meu público mais fiel. Não obtive muito sucesso junto aos adultos, que nesta parte do continente são extrema e culturalmente ponderados, mas as crianças, para meu inesperado deleite, ficaram encantadas! Foi uma sensação inexplicável, receber dos pequenos uma atenção que nem de longe cheguei a cogitar nos grandes, e isso me fez refletir acerca da dimensão de meu trabalho, no tocante a seu próprio objetivo. O carinho, traduzido na forma de tantos sorrisos e gargalhadas gratuitas, estabeleceu entre nós, o estranho artista brasileiro e essas crianças de países tão distantes, um diálogo que extrapolou as palavras, por sinal em sua maioria incompreensíveis a ambos.
   Outro objetivo foi produzir alguns trabalhos públicos em espaços citadinos ou naturais, como foi o caso. Diante de uma fria indiferença por parte da maioria das galerias de arte que procurei para apresentar meu portfólio, senti-me ainda mais impelido pela necessidade de imprimir arte em espaços improváveis, onde o público cotidiano circula em suas indas e vindas. Tal empreitada, desta vez, fez um grande sucesso, já que ali as pessoas, em sua maioria, adoram ver seu espaço prestigiado por manifestações artísticas de toda ordem. É algo que está no cerne da cultura européia. Mesmo correndo o risco sempre presente de ter algum problema com as autoridades municipais, já que obviamente trabalhei em tais espaços sem autorização, deixei impressos alguns trabalhos muito bem acolhidos pelas respectivas comunidades, que resultaram-se neste contexto muito felizes. Foi antes de tudo uma forma de estabelecer contato com pessoas do mundo inteiro, conhecendo-lhes as singularidades, traços culturais, amarguras, alegrias, anseios e esperanças. No fim, a despeito de tantas  diferenças e distâncias, concluí que de fato, onde quer que seja, temos todos algo em comum. Algo que nos torna humanos.

 Namoradeira na Noruega- acrílico sobre parede, Oslo


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 Anjinho de castigo- acrílico sobre parede, Oslo


 African lady- Acrílico sobre parede, Estocolmo


 O esquilo- Acrílico sobre madeira, Estocolmo


Anjo de um bosque chamado solidão- acrílico sobre pedra, Estocolmo



 Natureza desenclausurada- acrílico sobre container de aço, Estocolmo


 Índia com brinco de penas- homenagem a Vermeer- acrílico sobre parede, Delft


 O lar- acrílico sobre parede de madeira, Bergen


 Intervenção em sinalização de pedestres- acrílico sobre calçada, Oslo


 Dom Quixote- acrílico sobre parede, Lund

Bolhas de sabão- Acrílico sobre parede de madeira, Bergen

domingo, 12 de março de 2017

Sobre arte pública, arte de rua, street art...


Várias são as motivações que levam um artista imprimir suas obras em espaços públicos. Sabendo que, dadas as próprias condições das locações esses trabalhos quase sempre terão sobrevivência efêmera, ou, noutros casos, figuram em espaços que sequer são ou serão apreciados por olhares humanos,( tais como galerias de esgoto, túneis de trens e metrôs, interior de construções abandonadas, florestas e rincões desabitados), o que estimula um artista, muitas vezes, a arcar com gastos, riscos de toda ordem, desconfortos e dificuldades técnicas operacionais, para, ainda assim, elaborar iguais projetos? Faz-me lembrar inclusive, pensando nisso, de alguns exemplos notáveis de pintura rupestre que, tendo sido feitas em cavernas ou paredões de dificílimo acesso, certamente visavam objetivos outros que  apenas um mero padrão de linguagem.
Como já foi dito, cada artista tem seu foco, objetivos  e uma demanda que é singular e subjetiva, e cujo resultado incita especulações, leituras e reflexões diversas, embora se possa observar que, na maioria dos casos, as próprias obras nos dão indicativos claros para melhor compreensão de seu contexto geral. Seja um grafite artístico complexamente elaborado, ou apenas um "pixo", visto desde tempos antigos como gesto vândalo, toda forma de expressão se insere e reflete um processo sócio-cultural. Não farei aqui, todavia, uma análise pessoal acerca das inúmeras e possíveis razões da arte pública, nem mesmo falarei dos meus próprios motivos ao fazê-la, mas quero atentar ao fato que, estando esta vinculada a determinados espaços, não será possível compreendê-la sem, antes, compreender a realidade desses mesmos espaços. E tal compreensão, feita sem parcialidade e com o desapego de quem não se restringe a estereótipos, certamente ampliará a visão no tocante a nosso próprio lugar no mundo...

Seguem alguns trabalhos de street art,  arte pública ou como aqui dizemos, arte de rua, que tenho feito por aí...


"A GATA"- pintura sobre parede



"MENINA OBSERVANDO PASSANTES"- acrílico sobre pedreira



"RAINHA DAS ÁGUAS"-acrílico sobre tronco de árvore



"DIVERSO"- acrílico sobre painel



"AS AVENTURAS DO BEBÊ MACRODINÂMICO"- acrílico sobre parede



Pintura em tinta látex sobre muro



"DOURADO DE ÁGUA DOCE"- acrílico sobre parede



"MARLIN AZUL"- acrílico sobre parede





sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A maçã

  A maçã talvez seja a fruta mais icônica do mundo. Seu simbolismo universal remete quase sempre à sensualidade, pecado, volúpia, apetite voraz, paixão, e neste contexto, figura nesta obra causando grande contraste. Uma adolescente austeramente trajada segura a fruta que sangra, numa alusão clara a sua feminilidade pungente e já tão precocemente fremente...


Pintura- "O DESPERTAR"-acrílico sobre tela, por Wederson

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A MURALHA

  Esta pequena pintura trata de um tema que foi exaustivamente debatido e vivenciado no ano de 2016: as manifestações que, em múltiplas formas e lugares, ocorreram com certa frequência em nosso país. Tais movimentos, provenientes de vários setores da sociedade, e tendo cada qual sua própria bandeira, trouxeram à tona inúmeras questões acerca de nossa identidade enquanto pátria, inclusive denunciando abertamente as grandes discrepâncias ideológicas e sociais que, no mutismo histórico, estiveram de certa forma camufladas e latentes num aparente comportamento de fantasiosa tolerância.
   As passeatas nas ruas, as refregas em redes virtuais e antagonismos dentro de grupos como a própria família, só fizeram aumentar um sentimento de desigualdade e hostilidade entre as pessoas, obscurecendo inclusive os objetivos primordiais das revindicações numa deflagração de discursos e atitudes cada vez mais discordantes, tendo por resultado a constatação de que, os limites deste país vão muito além de linhas geográficas, dimensões continentais ou peculiaridades culturais: existe ainda algo muito mal constituído em nossa condição de seres humanos, no tocante ao que nos permita vivenciar o que se chama civilidade!
  



Pintura "A MURALHA"- acrílico sobre tela, por Wederson