segunda-feira, 2 de abril de 2018

As pinturas na roça, e o triste abandono do sertão

Como tenho postado aqui, eventualmente, desde algum tempo executo pinturas em ruínas e casas abandonadas pelo mato, em vários locais. Este trabalho é, além de muito prazeroso, um tanto quanto angustiante! Tenho observado nessas andanças um grande número de residências abandonadas, fechadas e entregues à inclemente ação do tempo e das intempéries. Posso constatar que as novas gerações, motivadas por razões óbvias de uma precariedade de recursos, pelos atrativos da vida citadina e outra série de dificuldades,  que passam mesmo por questões sérias, como a degradação natural do habitat e uma consequente "inconstância" da própria natureza, tem optado por migrar para os grandes centros urbanos, onde encontram maiores e melhores possibilidades. O pequeno produtor rural tem se tornado cada vez mais raro, e segue vivendo numa situação de quase subsistência. Os produtos provenientes das culturas rudimentares e naturais são substituídos cada vez mais por uma produção de grande escala e transgênica, cujas consequências, seja pelos impactos ambientais ou no quesito da própria qualidade em relação ao organismo humano tem sido discutido em larga escala. Estamos cada vez mais submetidos a agentes químicos, víveres artificiais e manipulações laboratoriais das grandes lavouras e criadouros, o que certamente já tem apresentado resultados preocupantes.Tudo isso segue um cálculo previsível, uma vez que a humanidade tem se multiplicado de uma forma sem precedentes, e os recursos do planeta tem se tornado cada vez mais escassos, sendo assim necessários arranjos ainda inéditos. Somados, obviamente, a uma ambição desmedida das grandes empresas e produtores, que não se incomodam com suas atividades nocivas.
O jovem das zonas rurais, como foi dito, não possui estímulo ou investimento para continuar na labuta familiar, muitas vezes e por gerações sacrificante, cuja colheita já não consegue competir com a produção industrializada, e assim acaba sendo mais sensato deixar a velha casa na busca de outras aspirações e tecnologias. Com a morte dos antigos moradores,  que perseveram persistentes e irredutíveis, uma época em franca extinção, tais casas, mesmo possuindo em algum lugar seus respectivos donos, resultam abandonadas. E eu já disse alguma vez aqui neste blog que, uma casa sem pessoas é uma casa sem alma. É muito triste deparar-se com uma vivenda, repleta de fantasmagóricas reminiscências em suas paredes, sem a vida que lhe confere um encanto pulsante, tal qual clorofila que corre em tronco ainda verde, e mesmo que pelo ponto de vista estético a ruína tenha seu charme, muitas vezes algo ali continua clamando por esta vida. Deixar minhas pinturas  nesses logradouros acaba sendo uma tentativa, precária e fantasiosa, é verdade, de conferir-lhes uma atmosfera viva e ainda latente. As cores e as formas por mim impressas, ao evaporar-se com a casa, mostrarão que ali ainda há algo de humano, algo que há de perecer com a própria estrutura, e talvez aquele lugar não soe tão melancolicamente solitário...




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