quinta-feira, 31 de maio de 2018

Uma parede na escola

Outro dia, numa escola perto de minha casa, flagrei uma parte do muro onde, apesar do esforço de se fazer um acabamento bonito, alguma interferência posterior largou uma terrível cicatriz na parede. O projeto inicial parecia prever detalhes elaborados com azulejos coloridos, emoldurando o que aparentava ser uma janela, que foi fechada da maneira mais crua e rústica com massa sem qualquer cuidado. Isso resultou num pormenor completamente contrastante, entre algo que foi feito com carinho, e algo feito com completo desleixo. Bem... eu não cheguei a conversar com a direção da escola no sentido de especular aquilo, ou saber se mesmo trata-se de algum projeto ainda em andamento. E muito menos solicitei autorização para desenvolver ali uma pintura que, ao menos paliativamente, pudesse amainar uma certa sensação de abandono. 
Aliás, aquele pequeno detalhe remeteu-me à própria situação da educação em nosso país, com seus investimentos parcos, recursos sucateados e professores esgotados e sem reconhecimento. Aquele incômodo estético, repleto deste contexto implícito, simplesmente chamou-me à ação. E resolvi fazê-la sem qualquer comunicado com a instituição, já que, muitas vezes, o artista que se propõe trabalhar na rua não pode esperar os processos burocráticos  necessários para, simplesmente, fazer seu trabalho. Em outras palavras, acabamos mesmo assumindo esta atitude que, embora vândala, muitas vezes cumpre um papel verdadeiramente social. Tomei meus pincéis e, num feriado, deixei lá minha pintura, naquela parede de chapisco ingrato e estéril, que ao tom das cores, pareceu mesmo criar um pouco de vida...


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